Voltando da ressaca do carnaval é hora the encarar o real world! If you think that your boss is an assehole remeber the wisdow emerging from radio corridor:
"There is no ethernal boss"! (Ah muleque!!!!)
Uma cronicazinha para amenizar
Voadora por trás
Para quem gosta de futebol, o pior do domingo à noite não é a expectativa da segunda, mas ter perdido o racha na praia. É gozação na certa no dia seguinte.
Jogo apertado, 2 x 1 para a turma da Farme de Amoedo... fazia mais de um ano que a nossa equipe, o Lido, não perdia para nenhum time de Ipanema. Na avidez de manter a escrita, sufocamos o adversário nos dez minutos finais, com direito a três bolas na trave! O tempo ia se escoando e a esperança se esvaindo. Escanteio. Era a última chance. O Zeca cobrou rasteiro e sobrou para eu chutar, livre de marcação, com o gol escancarado. Fui com tudo, mas não contava com a voadora por trás do beque deles. Nem vi o contragolpe que selou o placar em 3 x 1. Saí de campo carregado até a minha casa na Figueiredo Magalhães.
Na segunda, além do peso da derrota, pairava sobre mim o receio da visita forçada ao sinistro Miguel Couto. Sem plano de saúde, não havia mais remédio que encarar de frente o Miguelão, também conhecido como Jesus me chama. À mercê do minguado orçamento público, carente do material mais básico, o hospital alberga médicos da velha guarda – que de há tempos haviam esquecido o juramento de Hipócrates – e recém doutores – cheios de ambição, mas desprovidos de qualquer bom senso – que circulam pelas enfermarias, alheios às diversas tragédias individuais.
Na condição de desconhecido, manquitolei até o ponto e tomei o 434, rumo à aventura. Saltei, torcendo novamente o tornozelo, e me arrastei como pude até o portão de entrada. A fila parecia o povo de Israel, reunido em uma só coluna, caminhando em direção à terra prometida! Como Moisés, quem não chegasse antes da 5:30 da manhã, não veria a desejada pátria.
Lá pelas dez, depois de quase cinco horas de espera, o seu Francisco – antigo porteiro hospital, com um andar arrastado e um bafo de pinga dos diabos – passou dando a senha. Foi aí que me dei conta: ortopedia a partir das 16:00h. Ainda meio atordoado, reclamei:
--- Ô meu senhor, deve ter algum engano!
--- Ô meu querido, isto aqui é INSS. Não é hospital de bacana, não! É pegar ou largar!
O que não tem remédio, remediado está! O ancião estava certo, tivesse eu não abandonado o curso de direito e, talvez hoje, seria magistrado gozando de todas as regalias. Não havia jeito. Para amenizar a situação, comprei uma coxinha da Tia Creuza – vendedora famosa nas filas do hospital – e resolvi me armar de paciência até ser atendido.
Às seis da tarde, já roxo de fome, ouvi meu nome erroneamente declamado pelo enfermeiro Messias, com ares de gozação:
--- Dona Darci Reis Oliveira!
--- Ô meu irmão, eu sou sujeito homem!
--- Entrou na pilha! Relaxa e vai indo pra sala 5 falar com a Dra. Ivete!
Para não criar polêmica, fuzilei com o olhar o Messias e depois me dirigi para a sala da médica. Entrei meio cabisbaixo e desconfiado, pois a figura da doutora – uma anciã de mais de cem quilos, cigarro pendurado na boca e um foto de Iemanjá na parede – não me vislumbrava um porto seguro para minhas penas. De costas para mim, a lavar suas mãos, posição que lhe ressaltava a silhueta deformada, lançou um olhar de soslaio e perguntou-me:
--- Foi futebol, meu filho?
--- Foi, sim senhora...
--- Maldade ou grossura?
Contive-me e respondi baixinho:
--- Foi entrada por trás...
--- Pelo visto houve luxação... do jeito que está inchado. Vou chamar o Messias para colocar no lugar e te engessar – respondeu a doutora, continuando a lavar as mãos sem me dirigir o olhar.
--- Mas a senhora Não vai nem olhar o local? Nem uma radiografia?!?
--- Escuta meu jovem, até os 50 anos eu mexia na entorse, radiografava... hoje só de olhar eu já sei o diagnóstico! Fica tranquilinho! Tenho quarenta anos de praia como médica! Além do mais, a máquina de raios-X quebrou faz seis meses!
--- Mas doutora...
--- Doutora p... nenhuma! O Messias, aos costumes! Põe no lugar e botinha de gesso no tornozelo!
O Messias ficara atrás da pequena cortina da outra sala, como que estranho ao assunto e ao ser chamado irrompeu alegremente:
--- Pois não, minha doutora. O Darci é sujeito homem! É daqueles que nem gritam, não é Darci?
Não deu tempo nem de falar e o Messias começou o serviço.
--- Aí!!! Pára! Vai devagar aí!!!
--- Cadê o sujeito homem?
--- Acaba logo com isto e deixa de gracinha, meu irmão! – ordenei ao enfermeiro.
--- Calma, amizade! Vai ser no love!
Depois de meio hora de suplício, saí da sala respingando gesso e com três quilos no pé esquerdo. Pensei comigo: ou paro de jogar futebol ou pago um plano de saúde para escapar do Miguelão!