Grandes amigos, blza?
Segue uma cronicazinha para o simpático pessoal papa-goiaba, da terra de Araribóia!
Bom Carnaval!!!
Frase da semana: "De onde menos se espera, não vem nada mesmo!" (Amigo de copo)
Lua às antípodas
Quem mora no Rio e nunca tomou as barcas rumo a Nickity City, passou por essa vida e não viveu – como diz o poeta. A barca talvez seja o transporte mais popular e folclórico do eixo Rio-Niterói. Alguns a elegem por faltam de opção – muitos deles ilustres “edsons”, como diz o niteroiense para provocar o pessoal de São Gonçalo... “é de São” – outros para evitar a loteria da ponte, cuja travessia leva uma média de 20 minutos com desvio padrão de duas horas. A ponte é um capítulo a parte, exigindo um apartado isolado num tratado de psicopatologias urbanas, sendo assim, um tema um pouco extenso para uma crônica.
Dificilmente, mesmo o morador de Niterói, tem-se acesso às barcas sem encarar antes o coletivo - alegria da família Barata e aparentados, que por décadas vivem do transporte de carne humana enlatada, abrigados das intempéries empresariais e mercadológicas sob o amparo das benesses distribuídas pelas cortes legislativas. Era o caso do nosso herói, habitante do Paraíso em São Gonçalo – esse nome de bairro só pode ser pilheria de niteroiense...eta lugar feio! Edílson Josenaldo da Silva, 30 anos, cursou o 2º grau no Liceu em Niterói, engenheiro pela UERJ, terceirizado da Plus Quality – empresa esta terceirizada da Promon -, levava cerca de 50 minutos até as barcas, fazia a travessia em 20 minutos e tomava a última condução que o deixava na obra em Madureira, ou seja, mais uma hora e vinte minutos, perfazendo o tempo total de duas horas e meia de transporte. Só de escrever dá cansaço!
Pegar o primeiro ônibus de pé era pule de dez! Ed – como o chamavam os amigos de racha no Paraíso – vinha reflexivo imaginando como resolver a equação financeira que o levaria ao casamento com a Duda – Dulcinéia Gomes de Sá, primeira e única namorada desde dos tempos do Liceu, filha do seu Mané, proprietário de padaria no Apolo XIII em São Gogo. Era uma equação quase insolúvel no espaço real! Diga-se de passagem, o cidadão que mora no Paraíso e tem namorada oriunda do Apolo XIII, definitivamente, quando nasceu tinha a lua às antípodas e estava deitado de barriga pra cima!!! Só faltava que o pai lhe tivesse posto a alcunha de Adão! Nem o Bussunda daria risada de brincadeira tão desrespeitosa!!!
Conjeturando sozinho, o nosso protagonista desceu da condução silencioso e dirigiu-se cabisbaixo à terra de Ari – Praça Araribóia – entroncamento onde aportam muitos dos ônibus que vão dar as barcas. É um verdadeiro rio humano, caudaloso de mão-de-obra desqualificada, batalhando todos os dias na dura guerra da sobrevivência! Esta massa constitui a alegria de parte do empresariado escravocrata capitalista carioca, erigido sob a égide de sobrenomes tradicionais, ainda dos remotos tempos do Rio capital do Império! Haja protecionismo de mercado! Você já viu um Guinle casar com um plebeu Silva?!?
O Ed cruzou a roleta sem dirigir olhar ao trocador. Esperou abrir a portinhola de ferro e foi levado pela horda em movimento cego em direção à embarcação. Como sempre, preferia o 2º andar para curtir a vista. Completamente cheia, a barca partiu lentamente e já ia fazendo a volta para ficar de proa para o Rio. De repente, chegou uma senhora esbaforida e ofegante, pois subira as escadas na tentativa frustrada de encontrar um lugar para se assentar. O cavalheiro ao lado do Ed, percebendo a tristeza da anciã, adiantou-se e cedeu-lhe o lugar – fato cada vez mais raro hoje em dia encontrar jovem cortês! O Ed, meio sonolento, não se deu muito por conta e continuou suas meditações. Nem sequer passava-lhe pela cabeça abrir o manual de dosagem de concreto que trazia em mãos. Após exatos três minutos, durante os quais a velha senhora medira nosso herói da ponta do dedão ao último fio de cabelo, a mesma não se agüentou e mostrou-se disposta a prosa:
--- Desculpe meu filho, vejo que você é estudante, não é mesmo?
--- Antes fosse minha senhora... antes fosse!
--- Abandonou o curso?
--- Não.
--- Foi jubilado?
O Ed olhou de canto de olho a anciã, mas se conteve:
--- Terminei Engenharia Civil na UERJ, faz dois anos. Mas alguma pergunta, madame?
--- Não fique assim, meu filhinho! Vejo em você um rapaz esforçado.
Ed fez menção que dava o assunto por encerrado e ia tirar um cochilo, mas a velha emendou:
--- Você sabe que posso mudar a sua vida, meu garoto?
--- Como assim? – despertou o rapaz meio descrente, mas interessado em qualquer mãozinha do além que lhe tirasse do sufoco, ainda que viesse de lugar inaudito.
--- Eu fiz um curso de leitura da mão, com a Tia Sinhá – famosa cartomante da Ilha da Conceição – e posso predizer o seu futuro! Quer experimentar?
--- Bem.. eu nunca...
--- Passe para cá sua mão esquerda!
Sem maiores delongas a velha assenhorou-se da mão do jovem e começou a explicação:
--- Veja a sua mão! Calejada por sinal! Você tem três grandes linhas na palma da sua mão: a da inteligência, a da vida e a do amor! – nesse instante Ed já se renderá ao discurso da senhora e acompanhava meio pasmo a palestra da vidente.
--- Esta mais diminuta é a linha da inteligência. Você parece esforçado, mas não tem uma inteligência brilhante! Não quero ofendê-lo, apenas digo os fatos para chegarmos a um diagnóstico de seus problemas. O Ed se limitará a olhar a anciã como quem diz isto vai durar muito. A senhora não se abalou e continuou:
--- Esta outra maior, paralela a primeira é a linha da vida. Veja como ela percorre toda sua mão! Você vai ter vida longa! Mas o amor será mais difícil, pois a linha que o descreve está cruzando perpendicularmente a linha da vida! Amor platônico, mas surreal...
--- O quer tudo isso, vovozinha?
--- Não se precipite, meu jovem! Pela aspereza da sua pele, vejo que você é um rapaz honesto, mas que teve poucas oportunidades intelectuais...você trabalha em construção?
--- Fazer o que, trabalho - admitiu, desiludido.
--- Olha só meu filhinho. Vida longa, pouco promissora, dificuldades no amor devido às restrições do orçamento... é para desanimar. mas tudo tem solução!
--- Até agora a senhora acertou na mosca! Mas eu quero solução e não diagnóstico! – redargüiu o Ed, vendo que se aproximava o fim da travessia.
--- Meu filho, você já pensou em fazer um MBA em uma Faculdade da hora?
--- MB o que ?
--- Master Business Administration, meu filho! Ali você aprende todas as técnicas de networking! É tiro e queda! O importante nessa vida são os contatos, meu jovem?
--- Mas o que é esse tal de networking, minha senhora?!?
--- Em linguagem coloquial, é arte de fazer amigos em benefício próprio. Uma vez na panela você nunca mais sai do mercado!
--- É mesmo? Tem certeza?
A barca encostou e a velha sorriu para o rapaz e disse de mansinho:
--- Meu filho MBA é tiro e queda! Ou você vai querer passar a vida toda virando concreto e namorando menina pobre e feia? – mal falou isso, a senhora se misturou a multidão e desapareceu das vistas do Ed. O Ed desceu sorridente e seus pensamentos , agora, não eram mais de exclusividade da Dulcinéia!
Segue uma cronicazinha para o simpático pessoal papa-goiaba, da terra de Araribóia!
Bom Carnaval!!!
Frase da semana: "De onde menos se espera, não vem nada mesmo!" (Amigo de copo)
Lua às antípodas
Quem mora no Rio e nunca tomou as barcas rumo a Nickity City, passou por essa vida e não viveu – como diz o poeta. A barca talvez seja o transporte mais popular e folclórico do eixo Rio-Niterói. Alguns a elegem por faltam de opção – muitos deles ilustres “edsons”, como diz o niteroiense para provocar o pessoal de São Gonçalo... “é de São” – outros para evitar a loteria da ponte, cuja travessia leva uma média de 20 minutos com desvio padrão de duas horas. A ponte é um capítulo a parte, exigindo um apartado isolado num tratado de psicopatologias urbanas, sendo assim, um tema um pouco extenso para uma crônica.
Dificilmente, mesmo o morador de Niterói, tem-se acesso às barcas sem encarar antes o coletivo - alegria da família Barata e aparentados, que por décadas vivem do transporte de carne humana enlatada, abrigados das intempéries empresariais e mercadológicas sob o amparo das benesses distribuídas pelas cortes legislativas. Era o caso do nosso herói, habitante do Paraíso em São Gonçalo – esse nome de bairro só pode ser pilheria de niteroiense...eta lugar feio! Edílson Josenaldo da Silva, 30 anos, cursou o 2º grau no Liceu em Niterói, engenheiro pela UERJ, terceirizado da Plus Quality – empresa esta terceirizada da Promon -, levava cerca de 50 minutos até as barcas, fazia a travessia em 20 minutos e tomava a última condução que o deixava na obra em Madureira, ou seja, mais uma hora e vinte minutos, perfazendo o tempo total de duas horas e meia de transporte. Só de escrever dá cansaço!
Pegar o primeiro ônibus de pé era pule de dez! Ed – como o chamavam os amigos de racha no Paraíso – vinha reflexivo imaginando como resolver a equação financeira que o levaria ao casamento com a Duda – Dulcinéia Gomes de Sá, primeira e única namorada desde dos tempos do Liceu, filha do seu Mané, proprietário de padaria no Apolo XIII em São Gogo. Era uma equação quase insolúvel no espaço real! Diga-se de passagem, o cidadão que mora no Paraíso e tem namorada oriunda do Apolo XIII, definitivamente, quando nasceu tinha a lua às antípodas e estava deitado de barriga pra cima!!! Só faltava que o pai lhe tivesse posto a alcunha de Adão! Nem o Bussunda daria risada de brincadeira tão desrespeitosa!!!
Conjeturando sozinho, o nosso protagonista desceu da condução silencioso e dirigiu-se cabisbaixo à terra de Ari – Praça Araribóia – entroncamento onde aportam muitos dos ônibus que vão dar as barcas. É um verdadeiro rio humano, caudaloso de mão-de-obra desqualificada, batalhando todos os dias na dura guerra da sobrevivência! Esta massa constitui a alegria de parte do empresariado escravocrata capitalista carioca, erigido sob a égide de sobrenomes tradicionais, ainda dos remotos tempos do Rio capital do Império! Haja protecionismo de mercado! Você já viu um Guinle casar com um plebeu Silva?!?
O Ed cruzou a roleta sem dirigir olhar ao trocador. Esperou abrir a portinhola de ferro e foi levado pela horda em movimento cego em direção à embarcação. Como sempre, preferia o 2º andar para curtir a vista. Completamente cheia, a barca partiu lentamente e já ia fazendo a volta para ficar de proa para o Rio. De repente, chegou uma senhora esbaforida e ofegante, pois subira as escadas na tentativa frustrada de encontrar um lugar para se assentar. O cavalheiro ao lado do Ed, percebendo a tristeza da anciã, adiantou-se e cedeu-lhe o lugar – fato cada vez mais raro hoje em dia encontrar jovem cortês! O Ed, meio sonolento, não se deu muito por conta e continuou suas meditações. Nem sequer passava-lhe pela cabeça abrir o manual de dosagem de concreto que trazia em mãos. Após exatos três minutos, durante os quais a velha senhora medira nosso herói da ponta do dedão ao último fio de cabelo, a mesma não se agüentou e mostrou-se disposta a prosa:
--- Desculpe meu filho, vejo que você é estudante, não é mesmo?
--- Antes fosse minha senhora... antes fosse!
--- Abandonou o curso?
--- Não.
--- Foi jubilado?
O Ed olhou de canto de olho a anciã, mas se conteve:
--- Terminei Engenharia Civil na UERJ, faz dois anos. Mas alguma pergunta, madame?
--- Não fique assim, meu filhinho! Vejo em você um rapaz esforçado.
Ed fez menção que dava o assunto por encerrado e ia tirar um cochilo, mas a velha emendou:
--- Você sabe que posso mudar a sua vida, meu garoto?
--- Como assim? – despertou o rapaz meio descrente, mas interessado em qualquer mãozinha do além que lhe tirasse do sufoco, ainda que viesse de lugar inaudito.
--- Eu fiz um curso de leitura da mão, com a Tia Sinhá – famosa cartomante da Ilha da Conceição – e posso predizer o seu futuro! Quer experimentar?
--- Bem.. eu nunca...
--- Passe para cá sua mão esquerda!
Sem maiores delongas a velha assenhorou-se da mão do jovem e começou a explicação:
--- Veja a sua mão! Calejada por sinal! Você tem três grandes linhas na palma da sua mão: a da inteligência, a da vida e a do amor! – nesse instante Ed já se renderá ao discurso da senhora e acompanhava meio pasmo a palestra da vidente.
--- Esta mais diminuta é a linha da inteligência. Você parece esforçado, mas não tem uma inteligência brilhante! Não quero ofendê-lo, apenas digo os fatos para chegarmos a um diagnóstico de seus problemas. O Ed se limitará a olhar a anciã como quem diz isto vai durar muito. A senhora não se abalou e continuou:
--- Esta outra maior, paralela a primeira é a linha da vida. Veja como ela percorre toda sua mão! Você vai ter vida longa! Mas o amor será mais difícil, pois a linha que o descreve está cruzando perpendicularmente a linha da vida! Amor platônico, mas surreal...
--- O quer tudo isso, vovozinha?
--- Não se precipite, meu jovem! Pela aspereza da sua pele, vejo que você é um rapaz honesto, mas que teve poucas oportunidades intelectuais...você trabalha em construção?
--- Fazer o que, trabalho - admitiu, desiludido.
--- Olha só meu filhinho. Vida longa, pouco promissora, dificuldades no amor devido às restrições do orçamento... é para desanimar. mas tudo tem solução!
--- Até agora a senhora acertou na mosca! Mas eu quero solução e não diagnóstico! – redargüiu o Ed, vendo que se aproximava o fim da travessia.
--- Meu filho, você já pensou em fazer um MBA em uma Faculdade da hora?
--- MB o que ?
--- Master Business Administration, meu filho! Ali você aprende todas as técnicas de networking! É tiro e queda! O importante nessa vida são os contatos, meu jovem?
--- Mas o que é esse tal de networking, minha senhora?!?
--- Em linguagem coloquial, é arte de fazer amigos em benefício próprio. Uma vez na panela você nunca mais sai do mercado!
--- É mesmo? Tem certeza?
A barca encostou e a velha sorriu para o rapaz e disse de mansinho:
--- Meu filho MBA é tiro e queda! Ou você vai querer passar a vida toda virando concreto e namorando menina pobre e feia? – mal falou isso, a senhora se misturou a multidão e desapareceu das vistas do Ed. O Ed desceu sorridente e seus pensamentos , agora, não eram mais de exclusividade da Dulcinéia!
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