Volta pro crime
Largo da Carioca. Cruzamento dos mais movimentados do Rio. Ali se mesclam todas as classes sociais e ambições num colorido que iguala todos os mortais. Desfilam os executivos apressados, trajados de ternos bem cortados e reluzentes maletas de couro; secretárias, que parecem ter vindo da passarela, a procura de seu príncipe encantado; office-boys sorrindo e cantando o último sucesso do Zeca Pagodinho; pastores sem rebanho a desfiar seu repertório de ameaças contra o mundo descrente; suburbanos de roupas surradas, portando desconjuntadas pastas de plástico repletas de papéis sem importância...
Neste recanto sem charme, cercado de torreões de concreto feito pombais humanos, burbulham vários artistas de rua, que na dura luta pela sobrevivência, conseguem seus cobres fazendo sorrir a massa que pára para assistir suas proezas.
Dentre estes, sempre se destacou, pela sua alegria e genialidade, o Jair da Bola, morador da Pavuna, que ganhava a vida com seu show de inusitadas embaixadas. Da carreira frustada de jogador, desenvolvera incrível controle, sendo capaz vestir e desvestir a camisa de seleção, sem deixar a bola cair no chão.
Num desses verões escaldantes, em que o carioca de terno parece levar uma cachoeira dentro de si, dirigia-me, ofegante e apressado, para uma reunião na Petrobras. Ao perceber o Jair executando seus malabarismos, cercado de uma roda de transeuntes desconhecidos, não resisti e parei para me juntar ao grupo. Depois arrumo uma desculpa pela demora – pensei cá comigo.
O show era sempre recheado de piadas, contando com a participação do público. No canto esquerdo do círculo, encontravam-se dois meninos de rua, fitando assombrados o artista. O Jair se deu conta e parou a exibição por uns instantes. Olhando os dois fixamente, rolou a bola para o mais alto de cabelos desgrenhados. O garoto, sem cerimônia, ergueu a pelota e deu uma demonstração de sua habilidade. O Jair, absorto, comentou:
---- Tem futuro!
Sem solução de continuidade, rolou a bola para o outro garoto, um pouco mais gordo e atarracado. Ao tentar matar a bola, bateu de canela e o balão saiu de seu domínio. O Jair não perdoou e emendou:
--- Volta pro crime, moleque!
A roda estalou a rir freneticamente e os dois garotos sumiram na multidão. Deus queira que o futuro dos meninos de rua não esteja condicionado unicamente as suas aptidões esportivas.
Parabéns pela bela iniciativa, Armando!
ResponderExcluirSaudações tricolores e sucesso para o blog, que já nasce exitoso.
Abção, Roberto Wagner - Três Rios-RJ
Armandão,
ResponderExcluirFico feliz que finalmente tenha dicidido compartilhar seus "causos" com a grande rede, risos.
Um grande abraço,
Valdir Melo
Rio de Janeiro
Boa Armandão !
ResponderExcluirSerei leitor assíduo.
Abraço!
Eliseu.
SALVE ARMANDÃO!!
ResponderExcluirComo esta o riiii??
td certo por ai? espero q sim!!Qd vier pra sp me avise... fique com Deus .
gd abç
ale freire