quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Copacabana, princezinha do mar...

Fala galera, blz?

O glorioso em decadência é difícil de aguentar...

Segue uma crônica de um dos lugares de mais glamour do Rio antigo: Copacabana!

abs

Armandão

Solidão


Duvivier, recanto charmoso dos anos 50 em Copacabana...hoje já quase sem glamour devido à população que o circunda. Este cantinho de Copa, assim como toda quase toda a orla da praia mais famosa do mundo, abriga uma multidão de cidadãos aposentados, sem mais compromisso que jogar conversa fora e as andanças pelo calçadão da Atlântica.
Nesse contexto, enquadra-se perfeitamente o Bar do Adriano, ex-comissário da Varig que tendo apanhado uma grana no plano de demissão voluntária dessa companhia quase estatal – criada à sombra dos favores do Governo Federal -, abriu seu comércio com a ilusão de enriquecer facilmente como empresário do varejo...só os portugueses sabem da dura lide de microempresário, encostando a barriga no balcão para granjear seus lucros, sem direito a fim de semana - que dirá férias!
Típico cidadão carioca, dotado de boa prosa e sempre de bem com a vida, o pequeno empresário possuia alguns dons – principalmente o da simpatia – que lhe seriam fundamentais para sobreviver nesse ramo tão competitivo. Porquê tanta gente quebra no setor de alimentação, quando há sempre demanda por comida? É difícil entender...mas como em tudo na vida o sucesso está nos detalhes, que muitas vezes passam desapercebidos para os olhos de muitos, encardidos pela rotina do dia-a-dia.
Nosso encontro foi casual, uma vez que não tenho qualquer interface com o setor de alimentos. Na condição de inspetor de seguros, compareci ao seu estabelecimento para fazer uma vistoria prévia à contratação da apólice de incêndio, solicitada pelo banco do qual o mesmo é correntista. Cheguei, sentei e fui esperando a chegada do proprietário como de costume. Já estava preparado para o chá de cadeira e o mau humor do dono – na maioria das vezes, as pessoas detestam qualquer coisa que lhes faça sair da segurança de sua rotina...quanto mais pensar! Não deu cinco minutos e chegou o personagem:
--- Fala meu irmãozinho! Desculpe a espera. Acabei de chegar. Aceita uma água ou café?
--- Que é isso. Não tem problema, não. Se tiver uma mineral sem gás, agradeço.
--- Ô Maria, uma mineral pro ilustre!
--- Você tem o restaurante há muito tempo? – fui perguntando descontraidamente uma das questões daquele porre de questionário.
--- Faz uns nove anos, sabe. O que eu fiz eu não aconselho pra ninguém...Tinha um empregão como comissário da Varig, mas peguei o plano de demissão voluntária, o afamado PDV, e pus tudo aqui no restaurante. Foi uma loucura...mas estou sobrevivendo.
Graças a Deus a conversa começou a caminhar fora dos trilhos do formulário e ameaçava adentrar pelo extenso campo da filosofia do cotidiano...muito mais interessante que essa maçada de seguros!
--- Sabe duma coisa, meu amigo? Pra sobreviver no comércio tem que ter arte e sorte, assim como na vida! Eu cheguei pensando que era só oferecer comida percebi quão longe estava da realidade...
--- É mesmo? – perguntei convidando-o a estender sua palestra.
--- Não é mole, não! Aqui em Copa vive uma porção de aposentados, gente solitária...Muito mais que a comida em si, o serviço inclui a atenção e prosear com a gente...há muita solidão...
Suas palavras foram corroboradas pelas várias interrupções de anciãos que vinham espontaneamente puxar papo com o Adriano.
--- É duro chegar assim no fim da vida...solidão chega a matar!
--- Mas porquê você pensa desse jeito? Afinal a grande maioria da gente aqui tem condição financeira...
--- Mas não tem amigos pra conversar! E a família se esqueceu deles há bastante tempo...
Era uma realidade para a qual nunca tinha atentado. É verdade. Existe um exército de pessoas na Zona Sul, principalmente, com dinheiro, mas que padece de uma estranha solidão. Que maneira de se acabar os dias. Parece vingança da própria vida, que acerta as contas contra certos mitos modernos: curta a juventude no limite; tenha poucos filhos para poder dar um bom padrão de vida a eles...no máximo o casalzinho; cuide de seu corpo como se fosse imortal...Porém, a natureza é sabia, sempre voltando a recolocar o rio fora de madre em seu curso original. Quando nos deixamos iludir por essas máximas, a terceira idade é um desespero...A constatação de que a vida se nos vai e com ela a beleza e o vigor da juventude – quando não há um pano de fundo com algo de maior valor, quando não há o que os clássicos chamam de sentido para a vida – os dias transcorrem sem medo, contudo desprovidos de esperança! Sine spe nec metu – como diz o adágio latino! O preço de tranqüilizar a consciência com os sucedâneos do dolce fa niente – a alegria do animal bem alimentado em todas suas dimensões de besta – pode conduzir a uma tristeza profunda, ainda que arroupada pela cultura do bom burguês...
Não tinha jeito e, forçosamente, voltei a me ater às perguntas para terminar meu trabalho. Foi, talvez, a meia-hora mais valiosa daquele dia. Saí de lá com uma convicção profunda: O Vinícius de Moraes estava mais que certo quando dizia que “quem já passou por essa vida e não sofreu, sabe mais, mas sabe menos do que eu” . Afinal, completando a canção do poeta, “a vida só se dá pra quem se deu”!

Um comentário:

  1. Grande Armandão,

    Gostei pra caramba!
    De fato, esse exército de solitários está por aí. E o pior é que há uma massa de jovens que está indo pelo exato mesmo caminho. Ou até por um caminho pior que é o de não formar família para não ter quem os "prenda". Bem, acho que o que podemos fazer é ser muito amigos de todos e conversar com as pessoas sobre esses assuntos.

    Fica um abraço,

    André

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